INSÍGNIA E LEMA

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CONQUISTANDO OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA

terça-feira, 1 de abril de 2014

XXXIV - CORNETEIRO DESAFINADO … OU DESENFIADO?

Em pleno mês de fevereiro de 1971, encontrando-me eu de férias, vejo o Capitão Santana parar o “seu” jipe à porta da “minha” casa. Entrou, cumprimentou e disse-me: “Mota, preciso de um favor seu”. “É de caráter militar ou particular?, perguntei. “Se for militar, atenção que eu estou de férias; se for particular, faça o favor de dizer do que se trata!” digo eu. “É um misto das duas coisas”, retorquiu logo. “Você sabe que o Silva (Cabo Corneteiro) se perdeu de amores com uma mulatinha e eu sei onde ele está, fui informado. Está lá para a Lunda mas eu tenho a indicação do local exato. Vamos buscá-lo antes que passe o tempo de o gajo ser considerado desertor. Estamos já quase no fim da Comissão e eu não quero ver um homem meu com a sua vida estragada por causa dum caso destes”.
Dia seguinte, estou de camuflado vestido e de G-3 na mão, e, à hora marcada, o Capitão Santana pára o jipe. Vem acompanhado de outro Santana, mas do Pires Santana, Alferes do Recrutamento Local, que veio substituir um outro que, tendo vindo de férias à então Metrópole, deu baixa ao Hospital Militar da Estrela, em Lisboa, e não mais regressou ao nosso seio.
A estrada para o Distrito da Lunda (agora há duas Lundas, foi feita divisão), cuja capital é Henrique de Carvalho (denominada atualmente Saurimo), é alcatroada, mas entre o Luso e a localidade do Buçaco era uma área de forte ação inimiga razão por que, entre aqueles dois locais, obrigatoriamente toda a viatura civil tinha que fazer o trajeto em coluna devidamente escoltada por militares.
Esperámos pela sua formação e o Capitão Santana falou com o Comandante da Escolta, um Furriel, e transmitiu-lhe que o jipe se iria incorporar na coluna mas que viajávamos por nossa conta e risco.


Buçaco - coincidência, nome da rua da casa dos meus pais

                  
                       Estrada Luso/Henrique de Carvalho




Chegados a Dala, pernoitámos no quartel de lá depois do Cap. Santana ter falado ao Oficial-de-Dia à Unidade. O Capitão teve aposento melhorado, pois eu e o Pires Santana deitámo-nos numa arrecadação e dormimos no saco-cama que levávamos, numa completa escuridão, e com a arma ao lado. De noite, sou acordado com uma voz a gritar, ao meu lado: “eles aí vêm, eles aí vêm!” Apuro o ouvido e nada de anormal ouço. Acordo-o então com uma cotovelada, pois o Pires Santana estava a sonhar alto …
Já que ali estávamos, disse ao Capitão Santana: “meu Capitão, por que não vamos ver as famosas Quedas do Dala? É uma oportunidade única!”. “Vamos lá, pá!”, disse logo.


                               Quedas do Dala                                         

Fomos ao quimbo (musseque) que o Capitão tinha referenciado, não encontrámos o Silva, porque ele tinha saído de momento. Deixámos recado … e ele apareceu na BTR ao terceiro dia. Levou um raspanete e ficou com um castigo leve, sem registo escrito. Agradeceu a nossa atenção dum modo que me emocionou.                   

Nota: “Desenfiado”, em gíria militar, significa “ausente sem autorização”.


Carlos Jorge Mota

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