INSÍGNIA E LEMA

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CONQUISTANDO OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA

sexta-feira, 4 de abril de 2014

XXXVIII - 8 DE MAIO DE 1971 – ÚNICA BEBEDEIRA NA VIDA

Finalmente, o almejado dia chegou: 8 de maio de 1971, data do fim da Comissão. Daí para a frente entraríamos no “mata-bicho” (designação que em Angola tinha dois sentidos – agora só tem um: para os civis significava “Pequeno-Almoço”; para os militares era o tempo entre a data do fim da Comissão e a do Embarque de regresso).  Vou ao Sacassanje encontrar-me com o pessoal que estava nesse momento na picada, para festejo geral. Não bebi muito mas a mistura do que me deram, em confraternização, arrasou comigo: apanhei uma bebedeira que pensei que ia morrer. Nunca tinha tido tal experiência, apesar de habitualmente beber todo o tipo de álcool, só que moderadamente e sem misturas. Tenho consciência que fiz uma figura patética, não fosse o compreensível momento, seria ridícula até e mesmo reprovável. Sei que os Soldados riam-se do que eu fazia e do que eu dizia. Mas também não fui o único.

Entre o pessoal de Transmissões: o Coimbra (de manta), o Honorato e o Riachos (já desaparecido)
Todo o pessoal de todas as Companhias do Batalhão, nos respetivos locais onde se encontravam, festejaram dum modo especial aquele desejado dia. No regresso ao Luso, no jipe com o Capitão Santana ao volante, eu ria, cantava, vociferava. Ele manteve-se sempre calmo e completamente sóbrio, talvez por indispensável precaução e exemplo de recato, e teve a amabilidade de me transportar a casa, até porque seria muito perigoso para mim, sob o ponto de vista disciplinar, ser topado na rua naquele estado, fardado e armado de G-3. Deitei-me, mas não conseguia permanecer na cama pois tinha a sensação de que me encontrava num barco a afundar. Foi uma noite horrível, sempre a correr para o Quarto-de-Banho, “a lançar a carga ao mar”. Os outros riam-se, mas também só estavam um pouco melhor do que eu.
Dia seguinte, manhã complicada, pois a nossa Guerra não tinha ainda acabado. Era preciso ultrapassar a situação para dar seguimento às tarefas. Dois banhos, um em cima do outro. E, pelo continuar das horas, a “coisa” lá foi melhorando …
Na semana imediata, talvez porque eles soubessem que estávamos no fim da Comissão e queriam afirmar-se, como despedida, montaram uma emboscada em plena zona do Sacassanje, nossa zona de proteção às obras. O Ajax, condutor da Berliet que seguia à testa da coluna, aguentou ao volante os momentos de fogo e conseguiu inverter a marcha para uma melhor posição, enquanto o Luís Brandão de Macedo, em pé e de peito descoberto, metralhava a zona onde eles se encontrariam. Debandaram rapidamente, tipo “bate e foge”.
Nada mais de assinalável e que mereça especial referência aconteceu até ao dia em que recebemos ordem de regresso a Luanda.
Como o Fernandito, portuense colocado no Comando de Setor com quem havia feito amizade na Cristália, e já atrás citado, me havia dito que talvez me conseguisse uma passagem de avião militar para Luanda, coloco a questão ao Capitão Santana no sentido de auscultar o seu consentimento, uma vez que a minha presença no Comboio e nas viaturas, para enquadramento do meu pessoal, poderia ser dispensada. Aquiesceu e disse-me que até seria bom porque, dessa forma, eu começaria de imediato a tratar duma série de diligências a fazer junto das respetivas Chefias dos vários Serviços, em Luanda: de Intendência, de Material, de Armamento, de Transmissões, etc.

 Aeroporto do Luso, onde o Chembene se deslocou num PV2 para se encontrar comigo e onde embarquei no Nord-Atlas
Bilhete na mão, conseguido pelo Fernando, aí estou eu a entrar para um Nord-Atlas, da FAP, conhecido como Barriga de Ginguba, que me proporcionou uma viagem de cerca de três horas. Aterro em Luanda, na zona militar do Aeroporto. Vou para casa dos tios do Fontes, que, entretanto, já tinha acabado a Comissão e regressado à Metrópole. Durmo lá e, no seguinte, começo a tratar dos assuntos incumbidos.

Carlos Jorge Mota




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