INSÍGNIA E LEMA

INSÍGNIA E LEMA
CONQUISTANDO OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA

quinta-feira, 5 de março de 2015

COMO SE FORJA UM CONDUTOR




R.I. 6 - SENHORA DA HORA
Depois de Coimbra, segue-se o Porto, para continuar dois meses mais tarde, em Abrantes.

Alguns relatos passados no RI6 e subsequentes
Entrei na Unidade Militar R.I., 6 na Senhora da Hora, a 2 de janeiro de 1969, depois de um curto período de férias após ter concluído a minha aprendizagem agarrado à rosca e de adaptação aos assentos dos confortáveis carros de instrução do CICA 4. Ali permaneci a revigorar conhecimentos até 2 de março desse ano, dia em que fiquei apto e pronto para novos horizontes, rumando dali já mobilizado tendo Angola por destino,
Quatro dias depois, a 6, nova apresentação, depois de uma longa noite passada a bordo de um comboio que partiu da estação de Campanhã, Porto, com destino a Lisboa, mas que, entretanto, faria escala na estação do Entroncamento, onde me apeei. Tomei então um outro que seguia com destino às Beiras, com paragem obrigatória no Apeadeiro de Santa Margarida, onde cheguei por volta das 6 horas da manhã. Calcorreei, então, na companhia de outros militares, ainda era noite escura, toda a estrada que distava entre a paragem do Comboio e a Porta-de-Armas do Campo Militar de Santa Margarida, e dali até muito próximo da capela, onde, um pouco antes e do lado direito, e por indicação dada, ficavam os alojamentos do Batalhão 2872. Este, umbilicalmente ligado ao R.I. 2, de Abrantes, Unidade, aliás, que só no regresso ao Continente, e quando fiz o espólio, conheci, e superficialmente.

MERECIA LEVANTAMENTO DE RANCHO
Naquele tempo, as refeições deixavam muito a desejar, como é do conhecimento geral. principalmente para as Praças em Instrução (a arraia miúda)Não havia ASAE, Na Messe dos Oficiais a coisa era outra, as diferenças existiam. Não era novidade para ninguém, no entanto, ainda havia "Oficiais-de-Dia” conscienciosos, já que, antes do "manjar" ser distribuído, e como mandam as regras militares, provavam-no, mas ainda na cozinha, e ali logo eram feitos ajustamentos quando necessário. Assisti a algumas cenas dessas. Também descasquei batatas!
Num dos muitos almoços, logo nos primeiros tempos, que tínhamos que ingerir, o Rancho era Feijoada. Nada de estranhar, até porque estávamos numa terra muito conhecida e afamada pelo seu prato de "Tripas-à-Moda-do-Porto”.
Quando a “gamela” (terrina) vem para mesa, todos ansiosos - os que gostavam, claro  -, e sedentos por uma suculenta refeição, onde eu me incluía, chegando a minha vez de tirar para o prato de “Vista-Alegre” de alumínio, o que fiz com convicção, olho para o pitéu e fiquei atónico. Apesar do meu estômago o pedir com sofreguidão, os meus olhos repeliam toda essa vontade. Esperava que me tocasse alguma carne, mas tanta não! (pensei logo no meu colesterol). Então, o feijão branco, de tão artisticamente perfurado, inibia-me de lhe tocar. Não estava habituado a uma onda gastronómica tão calórica, e, mais ainda, por estar tão recheada e guarnecida de tantas iguarias.
Lá se foi aquela força interior, que todos nós sentimos quando se aproxima a hora do abastecimento , mas que, perante as razões e circunstâncias apontadas, ficou por se concretizar. - "Desenrasca-te", como se diz na Tropa.  Felizmente, nem sempre foi assim e o tempo lá foi passando.

SISMO, com magnitude aproximada de 7,3  - Quem se lembra?
Seriam duas horas e quarenta da madrugada, mais coisa menos coisa, do dia 28 (sexta-feira) e último dia de fevereiro de 1969, quando algo estava acontecer de muito pouco comum. No beliche, no 1º andar, dormia eu despreocupada e profundamente, talvez mesmo sonhando um qualquer sonho cor-de-rosa, quando abruptamente acordo com um RONCAR esquisito e um treme-treme muito estranho, mas que, perante a minha sonolência, nenhuma conclusão de imediato tirei, quedando-me impávido e sereno. Entretanto, um primeiro companheiro de "quarto" que regressa à caserna e me vê ainda deitado, questiona-me muito admirado: - "não sentiste o terramoto, o sismo?”.-" Ouvi e senti qualquer coisa, mas sem definir o quê", respondi-lhe. Relatou-me então o que se teria passado, no seu entendimento, mais em pormenor. Silenciosamente e sem mostrar medo, até porque tudo já tinha passado, e réplicas, que me lembre, não houve, ou fossem sentidas. Interroguei-me:  "Olha se o teto da caserna desabava?" Era uma caserna bastante ampla onde não havia qualquer coluna, logo o perigo de derrocada seria maior. Contudo, ainda me lembro, e muito bem, da minha primeira reação sobre o RONCAR, tendo-o comentado à posterior com alguém mediante conversas então havidas sobre o assunto.
Relacionei, ao acordar com aquele barulho que ainda ouvi, o ter sido produzido por um caminhão “BERLIET” passando por ali perto. Como o tal ronco que se ouvia estava já diminuindo de intensidade, em nada mais pensei, ficando onde estava. Verifiquei, todavia, depois, que fui o único que não se levantou. Todos os outros companheiros encontravam-se fora da caserna. Éramos poucos, estávamos no último fim-de-semana e muitos já tinham deixado o R.I. 6 rumo a suas casas. Eu só o faria durante o dia, pois só então tinha comboio para Vila do Conde, cidade onde naquele tempo vivia.
Como podem os meus amigos verificar, e apesar da magnitude do sismo, (7.3), o mais intenso sentido no Norte e em todo o Pais nos últimos anos, eu quase não dava por ele, mas estou certo que todos se lembrarão daquele abanão, estivessem onde estivessem.
Para aqueles que não se lembram dessa ocorrência, informo que o epicentro terá acontecido a duas dezenas de quilómetros a sul de Sagres, no mar, e a alguns milhares de metros de profundidade.

SINCRONISMO!
Repare-se na curiosa coincidência:  após 46 anos passados - 1969/2015 - a completarem-se no próximo sábado dia, 28 de Fevereiro - no mês e quase no mesmo dia de semana que Portugal todo tremeu.

TEMPO DE DESPEDIDA E UM CONSELHO  
Terminada a Especialidade, e todos em rigorosa formação na parada do R.I. 6, fomos informados do nosso próximo destino, pelo Comandante da Unidade, que curiosamente, entre outras coisas, fez esta advertência. "Vocês saem daqui aptos a conduzir, no entanto, só se tornarão bons condutores se lhes forem atribuídas viaturas e as conduzirem durante toda a campanha. Se tal acontecer, finalmente, considerem-se ótimos condutores". Nunca esqueci estas palavras. Naquela altura, porém, não lhes dei muita importância, mas decorridos os dois anos de permanência em Angola e tendo conduzido permanentemente, comprovei a exactidão daquela alusão, e hoje corroboro inteiramente aquela chamada de atenção.

Foi nesta unidade (recordando) que se completou o grupo dos “QUATRO INSEPARÁVEIS”, referência anteriormente já feita, com a junção do Condutor Boavista. Só por milagre este grupo se manteve atendendo a que o militar com o número a seguir ao do Almeida foi escalado para a Guiné. Atualmente, e já no Século XXI, Freitas, Carvalho, Almeida e Boavista, felizmente, ainda mantêm uma amizade viva e resistível, sem menosprezar, todavia,  outras amizades e convivências, que todos nós criámos ao longo dos mais de dois anos por terras de Angola e que desejamos manter indefinidamente.

26 de fevereiro de 2015
Manuel Jesus Freitas -   (Condutor C.Ç. 2506) 

1 comentário:

  1. Do Amigo de Infância: Fernando Marques, Ontem às 13:59

    "Pois é meu amigo, nessa altura dava eu instrução no R I 6 , pertencia a uma companhia de instrução que era a 1ª companhia do 2º Batalhão mesmo em frente à messe dos oficiais. Como era Furriel Miliciano, com especialidade de atirador tirado no CISMI (Centro Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria) ministrava à parte de instrução geral .
    Logo a seguir foi nomeado, com mais 15 camaradas, para nos apresentarmos no Regimento de Cavalaria em Santarém para dar instrução ao 1º ciclo (Recruta) de Sargentos Milicianos, regressando depois à minha unidade, R I 6."

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