INSÍGNIA E LEMA

INSÍGNIA E LEMA
CONQUISTANDO OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA

domingo, 28 de junho de 2015

ZENZA DO ITOMBE - 1ª OPERAÇÃO (ENTRADA PELO NORTE) - Narração 2ª

(Continuação)

Nota: Esta nossa "operação" militar, Comandada pelo Capitão, Reis Santana, em que participaram  os terceiro e quarto Pelotões, não contou com os dois  Oficiais Comandantes de Pelotão, por motivos de ausência na então Metrópole, um evacuado por doença e o outro gozando férias.

Quando parámos para um breve descanso, recebi do Capitão a ordem seguinte: 
O Capitão, sentado em cima de um tronco de árvore caída, segurava com uma mão um mapa grande, ajudado por um militar que, de joelhos, tentava, com as mãos, manter o mais esticado possível o encarquilhado mapa. Com a outra mão, agarrava uma régua própria para medir e calcular distâncias. Com nódoas e rasgões, era bem um mapa que andava na "guerra". Logo que me viu, disse-me:  "Temudo, puxe duma cadeira e sente-se no chão ... agarre nesta ponta do mapa para eu ficar com as mãos livres ... e preste atenção... se tiver dúvidas deixe-as para o fim ... ora bem ... temos aqui uma carta topográfica (nota minha: algumas diferenças em relação a um mapa vulgar: é que a primeira apresenta uma detalhada representação do relevo e o desnível entre dois pontos) ...  portanto, a indicação do Norte refere-se ao Norte verdadeiro ... onde está esta cruz foi o sítio na picada onde as viaturas nos deixaram para o inicio da nossa "operação"...  e é aí que daqui a umas horas estarão a aguardar o nosso regresso ... repare como a picada está colocada no mapa ... são muitas dezenas de quilómetros em, praticamente, trajecto rectilíneo ... para o que nos interessa podemos considerar uma linha direita ... já vamos ver a vantagem o que tal nos vai, agora, trazer ... também, neste percurso que falta percorrer, não se notam elevações ou outros obstáculos e a mata apertada já não se faz sentir, pelo que não teremos de alterar muito um traçado em linha recta ... portanto, vamos calcular o azimute (geográfico/verdadeiro), para atingir a picada neste sítio aqui ... onde estarão as viaturas à nossa espera ... e não nos vamos preocupar a congeminar uma rota (trajectória), pelos motivos já apontados ... não vamos esquecer que, ao valor em graus que vou calcular a seguir, há a considerar o valor da declinação magnética (em relação à orientação pela bússola, que aponta o azimute magnético), apesar de, neste caso, não ter importância significativa ... por isto tudo não vale a pena, neste momento,  entrar em consideração com o valor do azimute inverso,  tendo  em conta o local do nosso objectivo operacional, já atingido há dois dias atrás, e a partir do qual iniciámos o nosso regresso  [nota minha, e para quem não sabe: o azimute inverso é o azimute que aponta a direcção oposta. Por exemplo, se o azimute inicial tiver sido de 90°(Este) o azimute inverso é de 270°(Oeste). Calcula-se olhando a bússola desta forma: se for inferior a 180°, deve-se somar 180; se for superior a 180° deve-se subtrair 180] ... agora, o Temudo aponte para não esquecer ... o nosso azimute é de "X " graus ... e, com maior ou menor rigor, vamos sempre de "encontro" à picada, que está colocada para um lado e para outro da perpendicular do rumo (da linha de rumo) que vamos seguir (nota minha: em navegação e, neste caso, Rumo e Azimute têm o mesmo significado) ... aí está a vantagem do que apontei inicialmente quanto à colocação  no terreno da picada e ao seu aspecto em linha, quase recta, ... agora vamos calcular o tempo que precisamos para chegar às nossas viaturas ... ora, nesta escala da Carta, são "Y" centímetros, portanto "Z" quilómetros, em linha recta ... (nota minha: se, por exemplo, a Carta estiver na escala de 1:100.000 e a distância lida pelo Capitão através da régua, entre a cruz na Carta /Mapa que corresponde ao sitio onde nos encontramos e o ponto de destino onde se encontram as viaturas for de 10 centímetros, quererá dizer que a distância efectiva a percorrer, em linha recta, é de 10 quilómetros) ..., mas, que percentagem a mais devemos acrescentar a esta distância, tendo em atenção a realidade do percurso?... - Meu Capitão (respondi), apesar de não haver grandes obstáculos no terreno, sempre vamos ter que fazer bastantes "curvas e contracurvas" e contando com pequenos erros de correcção que vão suceder, sugiro que se acrescente mais metade à distância "Z" já calculada
(nota: na prática, tratava-se de acrescentar mais 50 por cento, o que equivale a aceitar que o percurso pedestre de 10 kms em linha recta - impossível de concretizar - seria, na realidade, muito próximo dos 15 kms pelo que ficaria esta a distância a ser considerada como "verdadeira ") ... - Concordo consigo (disse o Capitão) ... portanto, o valor "Z " já apontado passa a ser mais metade ... vamos agora calcular a nossa hora de chegada à picada, para eu “mandar um rádio" quanto antes a fim de as viaturas de transporte estarem à nossa espera à hora por mim combinada ... ora ... como o pessoal está de "rastos", vou considerar que poderemos fazer apenas  "K " kms em cada hora ...  uma vez que, em cada meia hora de andamento vamos parar 10 minutos para descanso, levaremos 5:30 horas para chegar ao destino ... daqui resulta já que o pessoal tem que fazer durar a água dos seus cantis mais seis horas, até chegarmos às viaturas ...  No "rádio que vou mandar" vou pedir que tragam bastante água potável nas viaturas ... Para acabarmos: o Temudo vai para a frente da coluna com os seus homens ... já sabe o rumo a seguir (ou azimute) ... faz paragens de 10 minutos em cada meia hora de andamento ... imponha um passo certo para não provocar "esticões" cá para trás ... eu vou seguir na coluna entre quinze a vinte homens de distância, pelo que não vou ter contacto visual consigo ... após interceptar a picada e tiver as viaturas à vista páre e mande um homem dar-me a notícia ... ninguém sobe para as viaturas sem minha ordem. Tem alguma dúvida? - Não, meu Capitão, não tenho dúvidas (respondi). - Então, leve a minha bússola. Quanto ao mapa, não vai precisar dele. - Meu Capitão (disse), eu prefiro a minha bússola, porque já estou habituado a ela. - Mostre cá a sua bússola (disse o Capitão) ... está bem ... se prefere assim … vamos avançar sem mais demoras. 
Pedi licença para me retirar, procurei o Primeiro Cabo Couto e disse-lhe para levar o pessoal da nossa Secção para a frente da coluna. 
Agora, na "frente", onde "o coração bate mais forte", estávamos a caminho da picada onde estariam os "nossos" condutores, para nos transportar para "casa".

(Continua)

A minha bússola e régua de cálculo








Fernando Temudo

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