INSÍGNIA E LEMA

INSÍGNIA E LEMA
CONQUISTANDO OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

À PESCA SEM REDE

Depois de inúmeras pesquisas, feitas por vários meios, de Camaradas cujo paradeiro se desconhece ou desconhecia, principalmente por iniciativa do Carvalho e que envolveram algumas deslocações, foi descoberto um, bem pertinho do Porto e próximo da sua (dele, Carvalho) residência.
Lá fomos, em visita-surpresa, e demos "aquele velho abraço".

O então Condutor NOVAIS, há 46 anos: é o primeiro da nossa esquerda, dos sentados

Nos dias de hoje: Freitas, Novais, Carvalho e Mota

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

CONFRATERNIZAÇÃO PENTANAL - SÃO CINCO

Época Natalícia. Assim, na sequência de almoços-convívios já habituais - desta vez mais alargado - e que são para continuar ainda com mais Camaradas. juntaram-se, nos arredores do Porto, Manuel Freitas, Carvalho, Almeida, Mota e Francisco Freitas. 
Um, obviamente para tratar do seu mister, outro - porque se trata de uma época especial - teria que ser de Operações Especiais, e os restantes, como estamos a tender para o enferrujamento, teriam que estar ligados à ferrugem.

Abraço a todos os Camaradas com Votos de Boas-Festas e Feliz 2016.




quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

VIAGEM PARA ANGOLA E OS PRIMEIROS DIAS EM TERRA

Primeira Parte (Carvalho)

Quando embarcámos em Lisboa com destino à Província de Angola, no barco de nome UIJE, este ia a romper pelas costuras. As praças, “militares”, terão sido todas ou quase acomodadas no porão do Navio, porão esse requalificado uns dez anos antes, para assim transportar mais quantidade de seres humanos. Tipo sardinha em lata. Paquete transformado. Não sei se era verdade, mas falava-se que o Navio transportava perto de quatro mil almas! A ser assim, levava três vezes mais que ao tempo em que foi lançado ao mar. Já em alto-mar, constatámos que as condições no interior (porrão) do barco, para se passar as noites, eram insuportáveis. As duas primeiras foram suficientes para verificar isso, e tomar uma decisão. Não só pelos odores que pairavam no ar, como pelas temperaturas elevadas que se faziam sentir, entendi, e de acordo com os meus amigos Almeida e Boavista, irmos fazer companhia ao amigo Freitas que, na coberta do navio, já ali tinha passado uma ou duas noites. A partir de então, a proa do navio foi a Suite encontrada para dormir e passar as noites que ainda faltavam para o fim da viagem. Fomos de algum modo afortunados, nunca choveu e, por isso, foram noites Cinco Estrelas, isto é, passadas sob as estrelas que, no firmamento, fizeram questão de nos fazer sempre companhia. Não pensem, porém, que tudo eram rosas. Durante toda a restante viagem tivemos sempre um senão! Valia-nos contudo o nosso despertador “silencioso” biológico, que nos ia dando o sinal para dali saímos a tempo e horas, caso contrário, acordaríamos com um banho de chuveiro madrugador e, dadas as circunstâncias, nada recomendável. É que, diariamente, ao romper da Aurora, alguns membros da tripulação tinham como tarefa lavar com uma mangueira com água à pressão toda a coberta do navio, os nossos aposentos improvisados.“
Durante os 13 dias de viagem passados em alto-mar só tivemos uma vez a visualidade de terra, e muito ténue, as Ilhas Canárias. Ao avistarmos estas ilhas, e mediante o que aprendi na escola primária, já teríamos deixado para trás, e do nosso lado direito, as nossas pérolas do mar, as ilhas da Madeira e Porto Santo. Mais para Sul, ainda teríamos que passar por Cabo Verde, posicionado à nossa direita, e, um pouco mais abaixo, à esquerda, a Guiné, assim designada à altura por Portugal. Desta, e à tangente, se safou o meu e nosso amigo Almeida. Especificando: do nosso grupo de condutores, no R.I. 6, da Senhora da Hora, foi o último a ser incorporado no Batalhão com destino a Angola. O número que o procedia foi destacado para aquela então Província (Guiné). Ainda passaríamos, relativamente longe, sem possibilidades de ser avistado, o Arquipélago de S. Tomé e Príncipe, que fica no Golfo da Guiné, no interior oceânico próximo de África e próximo da Guiné Equatorial e do Gabão, um pouco antes de Angola, onde chegaríamos finalmente, atracando na Baia de Luanda quando o calendário nos indicava o dia 21 de Maio de 1969.
Desembarcados, imediatamente fomos transportados para o Grafanil, onde nos esperavam, diga-se, “vistosas instalações”. Ainda hoje recordo esse dia! Estávamos em cima da hora do almoço e através dos altifalantes ouviam-se uns sons muito familiares. Era a voz melodiosa e inconfundível da nossa DIVA do Fado, Amália Rodrigues. Misturado, porém, com esses sons, pairava no ar um cheirinho deliciosamente apetecível, que me trazia à lembrança uma determinada zona marginal de Matosinhos: era o perfume imanado do assar de sardinhas, ali por perto, manjar, aliás, que faria parte do Rancho que nos iria ser servido. Apesar de tudo (e não obstante imaginar que para alguns poderá parecer estranho), por vezes, ainda lembro esse momento com muita nostalgia.


Uíge




Em Luanda no dia seguinte à chegada
Segunda Parte (Freitas)

SEMPRE PRIMEIROS

(MVL: LUANDA -  S. SAVADOR DO CONGO)


Já saciados, e muito bem instalados em requintados e ostentosos aposentos, os primeiros dias passaram-se com o desfazer das malas e algumas escapadelas até à Capital, Luanda, tendo mesmo o privilégio de, por vezes, sermos transportados em confortáveis “expressos” Diamonds, veículo de robustez soberba, movido a gasolina, tendo como consumo uns modestos 100 litros aos 100 quilómetros. Coisa pouca, não acham? Momentos únicos, aliás, aproveitados para tentar conhecer a “linda”cidade e sua esplendorosa marginal, mas, também, para saborear as iguarias, como os churrascos, por exemplo, que, nos seus domínios, constava haver. Estes factos foram, nas primeiras oportunidades, imediatamente constatados e desfrutados. Entretanto, passados os primeiros dias e quando ainda não se tinha assentado as “poeiras” de uma longa viagem, entre Continentes, foram distribuídos à companhia 2506 os dois primeiros Unimogs, os famosos “burros do mato”, sendo eu, Freitas, e o amigo Carvalho os privilegiados, porque os primeiros,  a receber as primeiras viaturas, e por isso,também, os primeiros e os únicos condutores a participar naquele que seria o primeiro serviço, onde militares da Companhia 2506, “ fora de portas”, desde a chegada, sairiam com funções previamente definidas. Mas não fomos só nós. No total, iriam ser 8 os Unimogs, sendo que os restantes 6 foram atribuídos às outras três Companhias do Batalhão, ou seja, 2 a cada uma. Já na posse dos “fabulosos e consoláveis”pequenos “burros do mato”, os 8 condutores eram informados pelos seus Comandantes de Companhia, do primeiro trabalhinho e responsabilidade que tinham pela frente. Não haveria mesmo qualquer possibilidade de realizar alguma adaptação à cela dos afamados "Burros do Mato", porque o tempo escasseava. Só tivemos tempo, aliás, de alimentar bem o Burro, reforçando a dose. Verificar se as suas patas estavam conformes, certificar os seus níveis de colesterol, confirmar se os seus olhos estavam compatíveis e aptos a fim de assegurarem uma boa visibilidade, e, pelo sim e pelo não, amealhar alguma água potável necessária para o cavaleiro, e para o próprio Burro, acaso viesse este a precisar. Quem se previne, por certo, valer-se-á por dois, principalmente quando nos embrenhamos por “territórios, com rotas e pastos” desconhecidos.
Coube-nos fazer a primeira missão, uma protecção, com o pessoal da Companhia 2504, comandados pelo Capitão-Miliciano Conde e Silva, a um MVL (Movimento de Viaturas Logísticas), neste caso, transporte de provisões em viaturas civis, desde Luanda para São Salvador do Congo, agora “M´Banza do Kongo”, no Norte de Angola, e já muito perto do grande Rio Zaire. A distância a percorrer rondava os 500 quilómetros, 290 em deficiente alcatrão, sendo os restantes de perigosa picada, esta após Ambrizete (N`Zeto). No decorrer de toda a viagem teríamos que passar pelo Cacuaco, Caxito, Ambriz, Musserra, Ambrizete, Tomboco, Xamindele, Cumbi e Quiende, como localidades de mais destaque, para, finalmente, se chegar a São Salvador.
A viagem demorou três dias: um para lá chegar, outro para a descarga e o 3º para o regresso. Quanto à alimentação ela foi distribuída do que havia de melhor: a ração de combate de cor castanha, assim era ela denominada pelo facto do cartão de que era feita a caixa onde continha as conservas, ser dessa cor. Até nisso tínhamos que ser os primeiros. Havia também a Ração de Combate de cor branca, sendo considerada de maior diversidade e qualidade. Penso que todos, a seu tempo, tiveram a oportunidade de o comprovar.
Foi dado ordem para a partida ainda bem cedo. Estávamos, assim, a fazer os primeiros quilómetros por terras desconhecidas. Galgado muito alcatrão, eis que chega a picada e tudo vai decorrendo normalmente até que chegamos a Tomboco, parando. Fomos ali bem recebidos, diria mesmo, com alguma euforia por alguns militares ali destacados. Como ia na frente da coluna, logo seguido do Carvalho, (mais uma vez os primeiros), e, para minha total surpresa, o diminutivo pelo qual eu era conhecido ao tempo em que vivi em Famalicão estava ali a ser entoado. Alguém que me conhece está por aqui? Não, não deve ter nada a ver comigo… não, não é possível! Admirado e confuso, interrogava-me! Alguém dos presentes será conhecido assim? Acontece que, por mero acaso, olho para o lado de onde o som vinha e então reparo que um militar, afastado uns dez metros, me faz um sinal e, para meu espanto, reconheço aquela cara. Afinal era mesmo por mim que chamavam. “Neca” diminutivo de Manuel, como era conhecido por quem me interpelava. Alguma vez me passaria pela cabeça ser possível encontrar, num território tão grande e tão longe de casa, um amigo de nome Joaquim Moreira da Costa, o Joaquim Pistola, como era conhecido na sua terra, dos meus tempos de infância e que já não via desde os meus 16 anos! Precisamente, quando deixei Famalicão e fui viver para Vila do Conde, de onde saí para Angola. Vivíamos os dois separados por uns trezentos metros, na Freguesia do Louro, Concelho de Vila Nova de Famalicão, onde frequentámos a mesma sala de aulas e ambos autores de muitas traquinices. Desde aquele inesperado encontro jamais voltaríamos a encontrar-nos. Este Amigo e Camarada de Armas presentemente passa mal, em Darque (Viana do Castelo), pois sofreu um AVC, conforme informações que recebi nos últimos dias do mês de Junho de 2015. Depois de dois dedos de conversa, atendendo ao pouco tempo de paragem, e como não tinha mais nada para me oferecer, deu-me uma peça de fruta que por ali era muito apreciada: uma Manga, que guardei, e também uma cerveja Cuca. Gentilmente agradeci e, como o tempo escasseava, despedi-me. Não sabia se no regresso voltaríamos a parar, o que realmente se confirmou. Todavia, e enquanto me dirigia para a viatura, com o amigo lado a lado, foi-me dizendo ele que já conhecia o percurso que tínhamos pela frente e os riscos que correríamos. Como amigo que era, foi prestável, alertando-me para eu me preparar psicologicamente! Que eu deveria ter muito cuidado com um determinado lugar, referenciado, que teríamos de passar, redobrando todas as cautelas. Mais uma vez agradeci, mas sem antes o questionar se não era só para me amedrontar … Éramos ainda maçaricos, muito tenrinhos, portanto. “Não estou a brincar”, referiu, confirmando a versão. E porque ainda teríamos que percorrer uma grande distância, numa outra breve paragem mais à frente junto ao rio Lucunga para comer qualquer coisa, fui ter com o Capitão que seguia no 3º ou 4º carro, não posso precisar, transmitindo-lhe do que fui avisado e dos receios e preocupações do meu amigo. O certo é que quando chegámos ao famigerado lugar e por se tratar, de facto, de uma rampa bastante íngreme, em subida, cerca de duas centenas de metros, que teríamos de ultrapassar, a coluna imobilizou-se. A picada neste lugar, para além das dificuldades que apresentava para as viaturas, estava ladeada de vasta floresta, e tão cerrada que pouco permitia ver para além da berma. Lá no alto, do lado direito, encontrava-se um rochedo com alguma dimensão. Era um lugar de excelência, que servia como poucos às pretensões dos nossos opositores. Ali, já se tinham concretizado várias emboscadas com êxito, fazendo diversas baixas entre as nossas tropas. Atiravam, preferencialmente, sempre com a intenção de atingir o condutor da viatura que seguia na frente – e na frente estavaeu - para que a viatura, então desgovernada, criasse o caos nas que a procediam. Mandado apear, ao Zé Militar foi-lhe dado indicações de prosseguir a pé até ao cimo do morro, ladeando o Unimog, onde só ia o condutor, eu próprio, Freitas. Com esta táctica, estava o Capitão a precaver a Coluna de uma qualquer investida do inimigo, tal qual havia sido informado dessa possibilidade. Foi, aliás, essa a informação a mim passada pelo meu amigo no Tomboco. Também tomei as minhas medidas quanto à subida, para minha salvaguarda e não só. Engrenei uma velocidade baixa, que entendi ser a necessária para que o Unimog realizasse a subida sem desfalecer, em caso de ataque, e não precisar de lá estar sentado ao volante. Coloquei o Acelerador de Mão na posição ideal para a velocidade desejada, pois, dessa forma, se fosse caso disso, seguiria sozinho. Para trás não vinha. Foi a estratégia que entendi ser necessária para o caso de ataque e fosse atingido à primeira. Seguia já com a mão esquerda na G-3 e sempre muito atento. Em caso de emboscada e não fosse eu atingido era só saltar para o chão e depois se veria...
Chegados ao cimo da rampa e como felizmente nada se passou foi transmitida a ordem para que todos os outros subissem normalmente. Após ultrapassado aquele obstáculo, a coluna prosseguiu o caminho que faltava ultrapassar até São Salvador do Congo, sem mais de relevante que mereça destaque.

Mas, entretanto, vejamos agora a versão do Carvalho que complementa a narração precedente:

Estávamos então parados para comer algo do que levávamos, junto ao rio Lucunga, quando determinados movimentos realizados por um dos ajudantes de camionista, sentado muito próximo do curso de água, me chamam atenção. Os movimentos são suspeitos. Reparo que o seu olhar pesquisa qualquer coisa na terra. Aprisionado o que quer que fosse com uma das mãos, a outra, vai em seu auxílio, e num movimento quase mecânico, separa algo, que deixa cair por terra, mas o que fica, imediatamente, leva na direcção da boca, devorando com sofreguidão o que por ali embarcou. Aproximando-me, “roído de curiosidade”, e já a seu lado, pergunto: “o que estás a comer?” Resposta pronta: “Formigas”. Efectivamente, e um tanto incrédulo, constato que as havia por ali e bem grandes, que até asas tinham. Presencio que o homem quando as apanhava retirava-lhes as asas e zás…. Comia-as. Fazia-o com tanto prazer que até parecia que estava a saborear camarão ou algo similar. Dizia ter encontrado ali o seu almoço. Eu digo: que nefasta forma de almoçar! Desconhecia eu naquele momento que as formigas eram comestíveis, a não ser pelo papa-formigas, aquele bicharoco de focinho fino e comprido, que já vi em programas televisivos da Vida Animal. Hoje sei que é alimento habitual de determinados povos e que elas são possuidoras de substâncias muito nutritivas. Mas … eu dispenso esse suposto pitéu.
O mar, desde Luanda, ficava sempre à nossa esquerda e aqui e ali a pouca distância da estrada por onde seguíamos. Porém, e a partir de Ambriz, mais essencialmente após a localidade de Musserra, era quase sempre visível ao longo de 50 quilómetros até Ambrizete. A paisagem é deslumbrante, envolvente e maravilhosa. O que presencio deixa-me extasiado. Nesta última povoação acaba o asfalto, virámos então para a direita, infiltrando-nos no interior Norte de Angola, agora através de picada (terra-batida). Chegados a Tomboco, quer na ida quer na vinda, nesse reduto senti uma sensação estranha que abalava o meu corpo, cujos sintomas eram de difícil avaliação e explicação. Algo parecia querer mergulhar nas minhas entranhas. Por estranho que pareça, depois de passados 47 anos, quando ainda penso nessa enigmática e estranha sensação, julgo sentir ainda alguns arrepios. Tenho convivido sempre com a percepção de que o enigma me acompanha e me persegue. Será que algum dia definirei o que se passou? Não creio. Essa oportunidade de deslindar o mistério jamais aparecerá. Desaparecerá comigo


Retomando (Freitas):
No dia seguinte, manhã bem cedinho, e enquanto esperávamos que o MVL renuisse todas as condições para regressar a Luanda, o Capitão reuniu os 8 condutores e todos os restantes militares que participavam na escolta, no intuito de realizar um exercício onde todos tomariam parte. 
Na periferia da cidade havia uma picada relativamente estreita, que ia não sei para onde, mas que era ladeada de muita florestação, intensa mesmo. Era o lugar ideal para se criar um cenário de emboscada. O Capitão, depois de nos dizer que deveríamos seguir a dita picada e ter informado que, em determinado lugar (desconhecido para nós, era surpresa), iríamos ouvir um apito: seria o sinal de um simulado ataque do suposto inimigo. Os condutores iam armados de G-3. Alguns levavam-na no suporte próprio; outros, levavam-na do seu lado esquerdo. A coronha pousava no interior da cabine, mas o cano ia postado na haste do espelho retrovisor lateral. Era aí que ia a minha. Segundo as instruções, os condutores teriam que imobilizar as viaturas, sair delas e refugiarem-se junto à berma. Já os militares que transportávamos deveriam saltar para o chão, colocando-se de imediato em posição de defesa nas duas margens da picada.
Com a minha viatura na frente (uma vez mais em primeiro lugar), percorríamos então uma picada cheia de curvas a uma velocidade de cruzeiro, normal, conforme as indicações, todavia, sempre na expectativa de ouvir o tal sinal. Após percorridos mais de dois mil metros, estávamos numa recta com cerca de 300 metros, e quando todos os carros (oito) eram visíveis, soou o sinal. Avisados de que isso iria acontecer, logicamente íamos mais atentos. Uns saltaram bem; outros caíram, levantando-se de imediato e refugiando-se em posição de defesa. Felizmente, não se ouviam tiros nem queixas das mazelas das quedas. Tudo não passava de um simulacro. Um reparo: todas as armas deveriam estar na posição de segurança, como prevenção, não fosse o diabo tecê-las…
Como naquele tempo era dotado de agilidade felina, hoje nem tanto, posso dizer que, por estranho que pareça, entre todos os condutores e não só, e mesmo não levando a G-3 já nas mãos como os restantes militares sentados no banco, levava a regueifa,  fui o primeiro, após o sinal, a saltar do carro e chegar à berma, com a respectiva arma. Até o Capitão, que fazia o papel de inimigo, me perguntou depois: “como foste tão rápido? Terás sido o primeiro a deixar o carro e chegar à berma?”. “Meu Capitão: é tudo uma questão de agilidade”, respondi, sorridente. Talvez ainda incrédulo ou surpreendido, volta a questionar. “Conseguir parar o carro, pegar na arma e saltar assim tão rápido, não é fácil!”. “Tudo é fácil”, disse, mantendo o sorriso, “quando se vai totalmente concentrado”. Tínhamos a favor, claro, o contar que, a qualquer momento, o alarme soaria. Por isso, ia com esmerada atenção. Logo que ouvi o sinal, travei o carro com o travão do pé, accionei o travão de mão com a mão direita, ao mesmo tempo que pegava na arma com a mão esquerda e, de seguida, salto para a berma da picada. O Unimog parou por si. Esta acção quase simultânea demorou apenas alguns segundos. Fui o primeiro, entre todos os militares que levava. Dessa façanha não tenho dúvidas. Nestas circunstâncias, a rapidez é fulcral e tinha vantagem sobre eles. Esmiuçando: acontece que quando o condutor trava mais a fundo a reacção natural dos que vão sentados no banco duplo é segurarem-se da impulsão que a travagem provoca. Mesmo quem segue ao lado do condutor arrisca-se a bater com a cabeça no pára-brisas ou a sair disparado borda-fora. A situação do condutor é diferente, daí a minha vantagem. É uma explicação simplista, mas não deixa de ser uma justificação realista para o sucedido.

REGRESSO: No regresso ao Grafanil nada de relevante há a destacar, a não ser algumas caixas de laranjas e bananas que desapareceram de uma grande fazenda, a Tentativa, na zona do Caxito. Mudaram de dono, pois passaram para os Unimogues. Aquela frutaparecia estar ali à nossa disposição, estava a dois passos da berma e não se via vivalma. Uma tentação, portanto. Mesmo nesse “desvio”, o Carvalho e o Freitas estiveram na dianteira. Sempre os primeiros. Chegados ao Grafanil, essa fruta aguçou vários apetites, satisfazendo alguns estômagos. Sim, a solidariedade estava nos nossos horizontes: era hora de repartir… o que nos sobrava…
Por mera curiosidade, a conhecida Fazenda, a Tentativa, com a dimensão de 21,48 quilómetros quadrados, pertencia, até falecer, 1972, ao Comendador António Albuquerque de Sousa Lara, que foi conselheiro do General Norton de Matos, e que também detinha em, em Matosinhos, a Refinaria Angola, sita na Rua dos Heróis de França, além de outro património espalhado por aquela então Província. Um ano depois, em 1973, a Fazenda foi adquirida pela família Espírito Santo, com António Espírito Santo Silva a dirigi-la, liderando também a maior fábrica de açúcar de Angola ali implantada. 20 anos depois, foi nacionalizada sendo que, actualmente, está tudo em ruínas. A Tentativa era a fazenda mais próspera de Angola. A família Espírito Santo - também detentora do Banco que continha o seu nome -  a quem pertenceu a referida Tentativa, presentemente, pelo menos alguns dos seus membros, está envolvida em situações anómalas cujo processo está sob alçada da Justiça.








Manuel Carvalho e Manuel Freitas, ambos Condutor-Auto  


MAS TUDO TEM UM COMEÇO:


De um Grupo de 26 Recrutas que assentaram Praça no Quartel R.A.L. - CICA-4, em 18 de Outubro de 1968, na Companhia de Instruendos Nº 2, Quartel esse cujas instalações eram no antigo Convento de Santa Clara, em Coimbra, três deles: Freitas, Almeida e Carvalho, iniciaram ali uma eloquente amizade que, desde então e até aos dias de hoje, tem sido imaculada, consistente e preservada. Dois meses mais tarde, concretamente no dia 2 de Janeiro de 1969, já na Especialidade, no Quartel da Senhora da Hora, no Porto, o Boavista juntar-se-ia ao grupo, constituindo-se, assim, OS QUATRO INSEPARÁVEIS. A cidade de Coimbra seria assim o trampolim para o início de uma nova etapa na vida de três jovens, e que, de alguma forma, também traçaria, como traçou, o seu futuro ali, onde deram os primeiros passos incrementando competências como Condutores-Auto.
Como tudo tem um princípio, aquela involuntária, por ser fruto do ocasional, permanência em Coimbra marcar-nos-ia para sempre. Muito foi gravado então na nossa memória, porém, hoje, só permanece intocável alguns fogachos desse passado já tão distante. O tempo se encarregou de fazer essa inevitável selecção. Porventura, e não obstante essa triagem ter acontecido, ainda restam assomos de alguns episódios e peripécias merecedores de serem contados. Ao transcrever para o papel este início de uma nova etapa, tem só, e unicamente, como principal objectivo rememorar um pouco do meu e nosso passado. Todos estamos ligados ao que para trás foi ficando. Quer queiramos ou não, os tempos entretanto vividos perseguir-nos-ão por todo o sempre. Por muito que tentemos alhear-nos ou mesmo procurar eventualmente esquecer, conforme o caso, e por muito que nos tenha prejudicado, ou beneficiado, nada e ninguém o pode apagar, pelo menos, enquanto por cá andarmos e a nossa memória não nos trair por completo. Cada um emitirá a sua opinião.


Apresentemo-nos, pois:

Almeida: Oriundo de Aliados de Lordelo-Vila Nova de Gaia, chegou ao grupo conotado como um bom “estafeta”, isto é, “um atleta de bom nível”, na modalidade de Atletismo Amador, especializado em Maratonas, característica que ainda hoje conserva, apesar do avanço na idade. Mas … não menos melhor como bom profissional na Casa das Lâmpadas, no Porto, onde entrou quando ainda era um adolescente, 12 anos, saindo somente decorridos 47. Deduz-se, pois, imediatamente, que teve um único emprego, coisa inusitada e espectacular – realidades de outros tempos. Já mancebo, foi chamado a defender a Nação. Depois deste dever cumprido, regressa profissionalmente ao ponto de partida,  a sua maior e mais exigente Maratona, terminando só quando atingiu a meta. Tinha finalmente, e já não era sem tempo, chegado a sua hora de descansar: reformou-se.

Carvalho: Este empreendedor teve que deixar por uns tempos de ser um jovem e promissor empresário, na área de Moldes, Cunhos e Cortantes, para se integrar no que, naquele tempo, não por vontade própria, todos os jovens eram obrigados a cumprir: a servir a sua Pátria. Alguns houve que abalaram a monte, com ou sem mala de cartão, para o estrangeiro, por razões ideológicas ou outras menos abonatórias …  O Carvalho sempre foi bom no que idealizava, projectava e concretizava. No entanto, jogar Bilhar-Livre, mas mais Às-Três-Tabelas, era,  nas horas livres, a sua gande paixão, que executava com rara mestria, como poucos, sendo mesmo um campeão. Passeava essa sua classe por algumas casas do Porto, Cafés na sua maioria, que dispunham das condições exigidas para a prática desse desporto. Terminada a missão que o levou às Terras de Além-mar, regressa ao Carvalhido, Porto, sua Terra- Natal. Passado algum tempo porém, e como o “bichinho” que trouxe de África continuava a remoer, eis que parte novamente, mas agora para Moçambique, fazendo-o indubitavelmente, desta vez, de livre vontade, para trabalhar como empreendedor e na criação e instalação de uma indústria da sua área de actividade, já atrás referida, transferindo para aquele ponto de África, com grande esperança e expectativa, todos os conhecimentos que dispunha e continuando assim a exercer o que maior prazer lhe dava.
O tempo foi passando e o empreendimento, que tantas canseiras acarretou, decorria com a normalidade esperada. Todavia, dá-se um acontecimento histórico na Metrópole, o 25 de Abril, e tudo mudou. Foi assim que depois de uma breve mas tormentosa passagem por aquele novíssimo “País,” em 1975, na qualidade de Empresário”, estatuto que actualmente mantém com afinco, aliás, como foi sempre seu timbre e perseverança. Viu-se então lá, a dado momento, na iminência, e a toda a pressa, de ter que deixar Moçambique, via Rodésia, a caminho da África do Sul. A alternativa seria, segundo julgou, ficar para sempre sob 7 palmos de terra, pois ameaças surgiram. Salvou-o um amigo nativo, autêntico Anjo-da-Guarda, que o avisou e lhe sugeriu a fuga. Abalou, pois, algumas horas depois deixando tudo para trás, sendo portador somente de poucos haveres pessoais e alguns, poucos, “patacos”.Chegado ao novo destino provisório, logo procurou angariar meios e forma para regressar a Portugal em segurança e à terra que o viu nascer: a sua Cidade do Porto, onde, apesar das circunstâncias à época, entendia ter sossego e tranquilidade para novamente recomeçar, prosseguindo os seus ideais.
Este episódio da vida do Carvalho, atendendo à sua importância, curiosidade, as peripécias inauditas que viveu tempos depois, após uma brevíssima passagem pela então Metrópole e no seu regresso, novamente a África, desta vez, a Moçambique, como civil, esta para si promissora mas perigosa aventura, pelo desconhecimento da maioria dos antigos companheiros, ele próprio a deveria contar! Ficamos todos à espera da sua narrativa, versando tempos que viveu, antes e pós 1975, no Moçambique já Independente.

Freitas: Estávamos num belo e promissor fim-de-semana e em finais do verão de 1968 quando recebo, com alguma surpresa, uma proposta do sócio do meu Pai, na pequena empresa que ambos detinham e na qual, eu, apesar da pouca idade, era o principal colaborador. Oferecia-se ele então para me dispensar a sua cota, os 50% que detinha. Atendendo a motivos de saúde, via-se na necessidade de se afastar, para assim dispor de mais tempo para tratar de si. Em consciência, lamentava os motivos, mas compreendia-os. Entusiasmado, porventura, e com alguma perplexidade, lá fui dizendo: “e como vou pagar?” 180 contos foi o valor atirado para cima da mesa, mas que imediatamente entendi como sendo verba razoável. Não tinha “tosta” e disse-o, mas recebi uma resposta curiosa: “pagas quando puderes”. Se estava surpreendido, ainda mais fiquei, mas pela positiva. Não é todos dias que se ouvem convites/sugestões destes, pensei”, e, nada hesitante, respondo com um sim. Tinha ali as portas abertas para, aos 21 anos feitos, tornar-me empresário.
O que hoje invocam de jovem empreendedor!...
Este sonho, todavia, foi Sol de pouca dura, como diz o povo, pois, logo uns dias depois, chega uma carta que alteraria tudo - tinha que me apresentar no CICA-4. Ora bolas, pensei. Aquela missiva fez desvanecer de imediato todo o entusiasmo até aí vivido e o desfazer de um projecto com futuro. Desolado, vejo um virar de página e tudo voltar ao princípio. Uma oportunidade perdida.
Coimbra, hoje posso afirmá-lo, traçou uma fase das nossas vidas. Pela minha sentia-a eu. Todavia, foi ali também, não obstante os vários considerandos, que, perante as circunstâncias encontradas, desabrocharam sublimes amizades, que perduram inalteradas passadas mais de quatro dezenas de anos, porventura até mais enraizadas. Valha-nos isso.
As fotos aqui presentes, foram tiradas num espaço aberto que então servia como Parada do Quartel, para os vários treinamentos. São também muito elucidativas da nossa juventude.

O Boavista só viria a integrar o Grupo dos Quatro Inseparáveis, atrás mencionado, no então R.I. 6, Senhora da Hora, no Porto.

Coincidência reconfortante:
Foi muito perto desse lugar, e junto ao Portugal dos Pequenitos, por onde éramos obrigados a passar aquando dos tempos da nossa recruta, que, por mera coincidência, pela primeira vez e depois de passados 19 anos - em 1990 - do nosso regresso à então Metrópole, após Comissão em Angola, se reuniram 38 Camaradas da Companhia de Caçadores 2506, do Batalhão 2872, juntamente com suas famílias, totalizando 86 pessoas. Sucedeu isso no Núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes, instalações não muito distantes da ponte rodoviária sobre o rio Mondego, numa cidade emblemática como ela é, e, dessa forma, criaram-se condições para uma outra "ponte" que permitiu o início dum ciclo infindável de Confraternizações regulares (anuais, com excepção da segunda). Cito, pois, a cidade de Coimbra como um marco histórico para mim, mas também por ser o Primeiro Encontro (melhor, Reencontro) da C. Cac. 2506. Recordando que esta primeira Confraternização teve como palco o também emblemático edifício histórico da Liga dos Combatentes naquela cidade, em cujo restaurante convivemos. Foi bem seleccionado pelo Carlos Jorge Mota, de quem partiu esta meritória iniciativa e sob cujos ombros pendeu a responsabilidade da sua organização.

Pertinentes agradecimentos:
A tentativa de realização de possíveis encontros entre os Camaradas de Armas vinham a ser forjados, uns anos antes de 1990, por mim, pelo Carvalho e pelo Almeida, que, em conjunto, algumas vezes versámos o assunto. Isto é, chegámos a falar do tema nos encontros que já então mantínhamos mas, por razões várias, não lhe demos continuidade. Possivelmente, outros houve que terão pensado o mesmo. Até que, inesperadamente, me chegou uma carta dirigida pelo Carlos Jorge Mota a dar-me conhecimento da sua pretensão e a pedir uma opinião sobre o assunto, como aliás o fez com outros Companheiros. “Vai em frente”, foi a minha resposta”. Já era tempo de alguém pôr os pés ao caminho e no que puder ser útil estarei sempre pronto. Existem sempre formas de participar. E tanto assim é que o nosso Camarada Crespo, já falecido, de Ribeirão, Vila Nova de Famalicão, só foi ao primeiro encontro, depois de ser contactado pessoalmente por mim, não obstante, ter recebido a missiva enviada pelo Mota, a desejar a sua presença, como o fez aos demais Companheiros de Armas para quem enviou iguais convites. Quer nesse, como nos posteriores Encontros, só uma vez o Crespo não foi no meu carro, principalmente até ao Porto, onde e sempre encontrávamo-nos com o Carvalho e o Almeida, para, juntos, dirigirmo-nos aos locais dos convívios. Entendo ser isto também uma forma de colaboração.

Contudo, estará no arrojo e empenho que o Carlos Mota teve que tornou viável esse primeiro almoço-convívio e potenciou os subsequentes. Da minha parte, reconheço com humildade o trabalhão que foi necessário para levar avante esta iniciativa. Obrigado, Amigo Carlos Mota.

Regresso ao presente por breves momentos no intuito de dizer ao Amigo Mota que faça figas para que se mantenha à frente desta organização ainda por muitos e bons longos anos.

História com três protagonistas
Estávamos em final de curso, no CICA-4, isto é, fazendo as provas finais de avaliação para serem anotadas no currículo de cada um, e as provas físicas eram uma delas. Numa bela manhã, “e todas são belas quando acordamos e vemos a luz do novo dia”, apesar do tempo ameaçar chuva, estava chegada a hora oficial de ser dado ordem de partida para a semi-maratona dos 10 quilómetros. O nosso Grupo assume desde logo a corrida e, como todos sabem, iam calçados de “modernos e confortáveis ténis”, ou seja, as botas pesadas que na vida militar por norma se usava. Decorridos alguns quilómetros, o Almeida passa a liderar a prova, seguido a pouca distância de mim (Freitas) e de mais alguns Companheiros que, entretanto, e por questões de dificuldade física, foram ficando para trás. Na peugada do fugitivo, Almeida, só eu continuava e sempre com ele à vista. Do Carvalho, que se tinha desligado do grupo decorrido algum tempo da corrida, nem vê-lo.
A prova termina e o Almeida é 1º. Eu chego em 2º, cerca de dois minutos depois. Como não era muito alto, media 1,70, e como não tinha, nem tenho, os pés grandes, calço 38/39, todavia, o calçado que levava então era 40, não me lembro porquê, eram espaçosos demais! “Ainda hoje coloco as culpas na marca que me patrocinava!....” Para minha inteira satisfação, apesar de tudo, cheguei ao pódio, mas poderia ter ido mais além, subindo no degrau. Entretanto, no decorrer da “maratona”, a ameaça cumpriu-se. A “senhora” chuva acabou por nos brindar com as suas longas lágrimas (ou seriam borrifos oriundos do seu manto húmido e relativamente escurecido que ia pairando sobre as nossas cabeças que, inadvertidamente talvez, terá sido espremido durante quase toda a prova?) O certo é que nos tocava com esmerada leveza, como se de alguma festividade se tratasse. Atendendo ao calçado “apropriado” que a marca patrocinadora me proporcionou, só aliando o denodo a uma grande vontade de terminar, permitiu que chegasse ao fim. Porém, quando me descalcei, e sem grande surpresa, já esperava alguma coisa do género, perante o mal-estar que sentia: tinha em cada dedo dos pés uma bolha, e algumas já em sangue. Não admira. Os meus pés fartaram-se de praticar natação no interior das botas, quando não estavam preparados para essa modalidade. A água da chuva era a razão do grande sofrimento pelo qual passei durante parte da prova e que me foi afastando da frente da corrida, inibindo-me de poder disputar o primeiro lugar, taco-a-taco com o Almeida, como era meu desejo, e estava preparado. Sabia inicialmente que reunia todas as condições físicas para obter um bom resultado, mas perante as condições apontadas nada podia fazer. Quando somos novos aguentamos tudo e a recuperação é sempre mais rápida. Foi o que aconteceu. Entretanto, o tempo foi passando e o Carvalho não aparecia. “Está muito atrasado, terá desistido?” Tanto eu como o Almeida nos interrogávamos junto ao ponto de chegada. Porém, mais alguns minutos decorridos e para nosso espanto, lá vinha ele, com muita à-vontade, aparentando mesmo bastante frescura física, nada cansado e até pouco ensopado! Nunca soube em que posição ficou, e talvez nem o próprio o saiba. Tambem não era assim tão determinante, mas … que terminou a prova, terminou! Mais tarde, e só os dois, soubemos o porquê daquela chegada pouco esforçada e pouco molhada.
Ao longo da estrada havia pessoas a incentivar-nos, dando algum apoio moral e material, e o nosso amigo Carvalho aproveitou a gentileza de uma dessas ofertas. Uma senhora, já de uma certa idade, e que ele nunca precisou de quem se tratava, vendo o esforço que ele já ia fazendo, e ainda no início, talvez simpatizando com ele, pois sempre foi um gentleman, ofereceu-lhe um café (de cafeteira) quentinho, acompanhado de bolos e alguma conversa! Os minutos foram passando e o Carvalho mantinha-se acolhido e rodeado da gentileza de uma bondosa senhora, mas atento ao que se passava no exterior, penso. Ele, que de burro não tem nada, depois de bem abastecido, espera que os primeiros passem e, na primeira oportunidade, volta à estrada, fazendo só dois a três mil metros, no total. Como ninguém deu pelo embuste, tudo acabou bem. No cômputo geral, foi o mais inteligente dos três. Só naquele caso.

De momento fico por aqui, mais tarde volto à ribalta, historiando e só o que realmente se passou nesses inesquecíveis tempos de juventude. Tempo em que servi, e com muita honra, a minha Pátria: PORTUGAL.

Recordar é viver, e todos nós temos vivências para contar, haja vontade e alguma disposição.
Esta narrativa é do conhecimento e tem a concordância dos amigos Carvalho e Almeida, por serem também protagonistas na redacção. 

Quartel em Santa Clara

Carvalho: o do meio da fila superior; Almeida: o 4º da fila do meio, da nossa direita para a esquerda; Freitas: o 3º, na 1ª fila, contando da nossa esquerda


Manuel Freitas