INSÍGNIA E LEMA

INSÍGNIA E LEMA
CONQUISTANDO OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA

sexta-feira, 6 de abril de 2018

FINALMENTE ENCONTRAMO-LO!

Chegado o nosso Batalhão a Luanda em 21 de Maio de 1969, foi-lhe atribuída a missão de controlo da rede de arame farpado que envolvia a cidade – o então denominado Serviço à Rede -, alternando com patrulhamentos aos musseques em busca de cidadãos indocumentados ou referenciados como elementos potencialmente envolvidos na guerrilha.
“Maçariquitos” que éramos, logo, sem a experiência ainda que todos viríamos a adquirir, apesar da grande preparação militar que havíamos recebido na então designada como Metrópole (o puto, na gíria angolana), cada um no seu ofício específico, numa das deslocações de pessoal em Berliet para distribuição pelos postos para o lado da Barra de Quanza, uma viatura pesada, ao contornar uma rotunda, decorridos apenas 2 meses da nossa chegada a Angola, portanto, em Julho seguinte, projectou para o solo alguns elementos nela instalados, acidente do qual resultaram vários feridos ligeiros, mas, também, infelizmente, alguns, poucos, com certa gravidade, que, imediatamente, foram transportados para o Hospital Militar de Luanda onde receberam a devida e necessária assistência.
Infelizmente, um deles, o Soldado Atirador Nunes,  após um mês de internamento, e porque o seu estado requeria cuidados especiais, foi transferido para Lisboa para o Hospital Militar Principal na Estrela, na Capital Portuguesa, não mais regressando a Angola.
Face a esta situação, a sua Nota de Assentos foi remetida para Lisboa e foi abatido ao efectivo do Batalhão.
Finda a nossa Comissão em Angola, de cerca de 26 meses, em Junho de 1971, no regresso à nossa Unidade Mobilizadora, o então R.I. 2, em Abrantes, foi entregue a cada um dos elementos do Batalhão um Livro com os elementos identificativos de todos nós, incluindo a respectiva morada. Mas … o Nunes,  porque os seus documentos militares já não residiam no Batalhão, não constava nesse Livrinho … que viria mais tarde a ser precioso porquanto, após o normal tempo de nojo de todas as guerras, durante o qual todo o Combatente se quer alhear e procurar adormecer os diabinhos que lhe entorpecem a mente, permitiu, após 19 anos de separação, reunir a Família Militar da Companhia 2506. Mas … o Nunes cujo nome completo o tempo decorrido se encarregou de se enevoar, que será feito dele? Estará vivo? Se sim, onde morará?
As Confraternizações foram-se sucedendo anualmente, já desde 1990 (houve um hiato de 1992 a 1995 em cujo permeio faleceu o nosso Capitão) e ninguém sabia dizer algo sobre o Nunes. Mas eis que, por mãos amigas na camaradagem militar, alguém tem acesso ao acervo do Batalhão 2872, em cujas páginas constam todo o seu trajecto de campanha, desde o seu nascimento em Abrantes até à sua extinção, onde ficam exaradas as tradicionais Ordens de Serviço que relatam toda e qualquer ocorrência a referenciar. E, por esse miraculoso acervo, conseguiu-se saber o nome completo do Nunes (Angelino Maria Nunes) e data da sua evacuação para Lisboa.
Munidos desses elementos e sabendo-se o ano do seu nascimento – 1947 -, para a hipótese de haver nomes absolutamente iguais, diligências foram feitas para se saber do seu paradeiro, se ainda vivo. E, finalmente, fruto de alguma cumplicidade amiga, conseguiu-se agora, decorridos 49 anos, localizar este Camarada, que reside no Concelho de Almeirim (terra da Sopa de Pedra e dos bons melões).
Feita a primeira abordagem telefónica pelo Boavista, dizendo que era seu Camarada de Armas, mas não citando o nome, o homem ficou como que incrédulo e disparou logo: “és o Orlando”, nome do condutor da viatura do sinistro. “Não sou o Orlando, mas vamos visitar-te, marcas o dia conveniente para ti, e o Orlando também estará presente”.
Rapidamente o pessoal do Norte, que quinzenalmente se reúne em Almoço, articulando-se com alguns  Camaradas do Sul com os quais há um contacto muito frequente, e um elemento da Covilhã cuja presença seria indispensável, providenciou pela deslocação à TASCA DO PIÇO – explorado pela família -  no dia 4 de Abril último, data marcada pelo Nunes.
Bem, o resto não vale a pena relatar porque se uma foto vale mais que mil palavras várias fotos valerão centenas de milhar.
O Nunes passará a integrar-se nas nossas Confraternizações e já mandou reservar 4 lugares para  o próximo dia 5 de Maio.
A título informativo, o Nunes só teve alta definitiva hospitalar, embora na fase final tivesse sido assistido de modo ambulatório, em meados de 1972.
Um bem-haja a todos os envolvidos no processo de busca bem como aos camaradas que tiveram a oportunidade de ir à TASCA DO PIÇO. Era impossível avisar todos os Camaradas, razão por que se formou um núcleo duro para esse efeito, sem protagonismo para ninguém e sem desprimor para quem quer que seja.
A emoção não segura as lágrimas. O Mineiro, que por dever do ofício e de camaradagem, foi o que mais o marcou

O abraço após 49 anos

O elo entre os dois foi (é) muito forte

O Boavista, ao centro, foi quem fez o primeiro contacto

O Nunes, entre o Mineiro, o Orlando, condutor da viatura sinistrada, e o Temudo, seu Comandante Directo

Oferta do Livro FARDA OU FARDO? pelo Autor

O abraço pela oferta

Nome castiço do Restaurante

A sobremesa deliciosa

O repasto, com o Nunes e a esposa interessados na fotografia

Uma parte da mesa


A outra parte da mesa

13, número de sorte

Juntos, de novo

Sorriso geral

Não couberam todos

Anotando os elementos do Nunes, para o incluir no Ficheiro da Companhia


Carlos Jorge Mota

domingo, 1 de abril de 2018

QUANDO SE VAI À CAÇA TAMBÉM SE PODE SER CAÇADO


Coutada do Mucusso nas "Terras do Fim do Mundo" 1969
Olhando as imensas e infindáveis Chanas, o Comandante Soares não resistiu ao seu impulso interior que o levava para a aventura. Ao sair da Coutada onde era o Rei, avança com determinação embrenhando-se nas matas ao longo das chanas, penetrando noutro reino onde os Galões não são conhecidos e existe um Rei que o não respeita. Mas, não combatendo a atracção sedutora da aventura, perdeu de vista o seu Reino. Agora, com temperaturas nunca antes suportadas, cedo se apercebe que, sem o seu cavalo motorizado, passará, num instante, de caçador a caçado. "Desorientado nos azimutes", não aceita as sugestões da Plebe, que habituada aos campos cheira os ventos e sabe de onde vem o Sol. Rapidamente a escuridão se impõe e com ela vem o implacável frio e conhece o Reino da Noite, onde há novo Rei. Repara, constantemente, em olhos penetrantes que veem o que ele não vislumbra. Com sons assustadores à sua volta, deseja que se faça dia e nota angustiado que não tem água para acalmar a sua sede insaciável. Só pensa que os "rapazes" da 2506 o encontrem, pois sabe que nos Reinos onde permanece será derrotado em breve e de forma ultrajante, sem direito a rendição.
Afinal, a vida nas "Terras-do-Fim-do-Mundo" é muito, mas muito, difícil de suportar.
Agora, entende por que lhe deram aquele nome!
Regressou ao seu Palácio, sem saudades de voltar ao Sul.

Fernando Temudo